O número de artigos publicados por pesquisadores brasileiros cresceu muito nos últimos 20 anos. Porém, o impacto dessas pesquisas não acompanhou o mesmo crescimento. Para pensar em maneiras de reverter o cenário, especialistas se reuniram no 1st Symposium on High Impact Publications, no Instituto Butantan. O evento, dia 1º de setembro, teve o intuito de debater estratégias para que a ciência praticada no país conquiste mais relevância.
“Em 20 anos tivemos pouca evolução de impacto e os problemas estão em todas as áreas. É verdade que algumas conquistaram mais espaço, como é o caso de Clínica Médica e Física. No entanto, o fato é que, na média, nunca o impacto dos artigos brasileiros foi maior do que a média do impacto mundial”, disse Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP.
Para Brito Cruz é possível observar uma relação entre colaboração internacional e o aumento do impacto dos artigos. “Acredito que a colaboração internacional seja uma boa estratégia, uma delas, para se ter mais impacto. Olhando o histórico de Espanha e Itália, que cresceram muito nesse quesito nos últimos anos, a colaboração parece funcionar, mas isso não deve virar um dogma. De qualquer forma, antes de ter publicações de impacto, é preciso ter pesquisa de impacto”, disse.
No simpósio, os especialistas, além de estimular a colaboração internacional, destacaram a importância de aumentar o impacto das revistas científicas brasileiras e a oferta de melhores condições para a realização de projetos de pesquisa de maior ousadia e duração.
Eduardo Magalhães Rego, chefe do Serviço de Hematologia e Oncologia Clínica do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto e editor de quatro revistas científicas com diferentes índices de impacto, concorda que é importante haver maior integração.
“É claro que antes de iniciar um projeto de pesquisa é preciso fazer uma ampla revisão da literatura, mas vejo que é importante também o pesquisador discutir sua hipótese com pessoas-chave da sua área. Principalmente na investigação clínica, em que o estudo multicêntrico é muito importante e é essencial que a hipótese seja discutida por várias pessoas. Isso resulta em perguntas mais inovadoras e na identificação dos pontos críticos da pesquisa”, disse à Agência FAPESP.
Magalhães Rego destaca também o cuidado com as estatísticas. “Às vezes a gente acha que sabe, mas ter alguém da área de Exatas que possa olhar para os dados ajuda muito a desenhar o modelo da pesquisa e até a melhorar a maneira de estruturar a pergunta”, disse.
Para ele, o que torna uma pesquisa clínica em um artigo relevante são itens como: modificar a prática clínica; trazer novos entendimentos ou insights sobre a patogênese ou a história natural da doença; oferecer um novo entendimento sobre mecanismos de ação da droga ou da interação da droga ou medidas preventivas.
O que tem de novo?
Para publicar nas revistas de alto impacto, é preciso buscar originalidade e também conhecer as publicações. “Cada revista tem um perfil, um escopo. Os pesquisadores devem ler pelo menos as seis últimas edições da revista na qual almejam ter o artigo publicado para saber o que os editores estão interessados em publicar naquele momento”, disse Philippa Benson, editora executiva da Science Advances.
Benson também destacou que caso o artigo já tenha sido rejeitado por uma revista científica, o pesquisador precisa ter mais cuidado quando for escolher outra. “Mude o paper para que ele se encaixe na linha editorial da publicação. E nunca mande o mesmo manuscrito e a carta de apresentação para outra revista”, disse.
Em uma palestra bem-humorada. Glenn King, editor-chefe da revista Toxicon, destacou as 10 maneiras de um pesquisador ter o artigo rejeitado pela publicação.
Não ter revisado a literatura, plagiar, omitir componentes-chave do artigo, escorregar na gramática, ser desrespeitoso com os pares, fazer declaração sem suporte, dar preferência a declarações subjetivas, ser ambíguo ou inconsistente, pesquisar “mais do mesmo” e ignorar os comentários dos editores e revisores é o que não deve ser feito, segundo King.